Pai,
Talvez hoje não seja a melhor data para te contar isso. Sei que você não ficará muito feliz com minhas palavras e decisões. Já não te vejo há tanto tempo, mas ainda te conheço, vivi debaixo do mesmo teto que você por longos 20 anos.
Pai,
Feliz dia dos pais.
Começo com uma boa notícia, o único presente que tenho a te dar já que meu salário ainda não saiu este mês: conquistei minha independência, me formo semana que vem, tenho um trabalho, aluguei um apartamento e consegui pagar a última parcela do carro que você me ajudou a comprar.
Meu querido pai, homem da minha vida, tenho mais uma coisa a te confessar. Tem mais alguém responsável pela minha felicidade agora, um segundo homem em minha vida, que me ama de um jeito diferente e tem brilho nos olhos ao olhar dentro dos meus.
Ele se chama Nero, pai. Nos conhecemos na biblioteca, onde eu finalizava mais uma etapa do meu projeto. Ele é uma pessoa muito boa, terminou ano passado o curso de Direito e está montando um escritório de advocacia. Já conheci a família dele e estou ansiosa para que ele conheça a minha. Paizinho, o Nero me pediu em casamento.
Não chore meu pai, serei sempre sua menininha. Você vai conhecê-lo, eu prometo. Mas, tem outra coisa que eu não contei sobre ele. Meu namorado é um pouco mais tostadinho pai, ele é negro.
Não posso olhar para você agora, porém infelizmente sei que você deve ter levantado as sobrancelhas daquele jeito furioso e decepcionado que costuma fazer quando não gosta de alguma coisa. Exatamente da mesma maneira que o fez quando te apresentei minha melhor amiga no colégio, a Preta. Lembro claramente da sua face rubra, franzindo a sobrancelha, cerrando os dentes e me dizendo que não deveríamos nos misturar com outras raças.
Me desculpe meu pai, não pela minha escolha, mas pelo que vou lhe explicar agora. Nós, homens e mulheres, somos todos da mesma espécie. E, ao contrário do que você sempre pensou, raças inexistem. Cientistas afirmaram recentemente, depois de longas e exaustivas pesquisas, que os humanos têm uma quantidade de genes muito próxima, todos temos mais ou menos os mesmos genes. Ou seja, nem a genética, nem a bioquímica justificam a existência do conceito “raças humanas”.
Negros, brancos, asiáticos, judeus e outros povos, ou “raças inferiores” como você costumava dizer, têm a mesma capacidade intelectual. Pai, sabe aquela moça da novela? A Camila Pitanga? Pois é, fizeram uma pesquisa com vários negros famosos, calcularam e observaram os genes dela, do Zeca Pagodinho e de outros jogadores de futebol mais escurinhos, eles descobriram que a quantidade e características deles são equivalentes as de uma pessoa branca.
Antes que você diga qualquer coisa ou quebre o lápis que está em sua mão, acredite em mim meu pai. O Nero não tem nenhuma doença, assim como a Preta não tinha, pelo contrário eles são muito inteligentes e capazes. Aliás a Preta virou atleta sabia? Tá competindo e tudo a minha amiga.
Ô Seu Branco, tá na hora de acabar com esse seu preconceito bobo. Aí onde você está meu pai, nesse lugar horrível. Você lembra por que foi parar aí? Pai, você foi preso por discriminação racial, ato preconceituoso e criminoso. Olha só o que você fez com a nossa família! A mãe tá lá, naquela clínica, já faz cinco anos, ela nunca se recuperou do trauma. Eu saí de casa ao completar 21 anos, estou bem agora, mas só Deus sabe o que eu já passei. Deus e o Nero. Aliás, meu pai, este homem tem sido um anjo em minha vida, tenho por ele um amor imenso, de pai, de irmão, de namorado.
Um amor meu pai, que poderia e, ah como eu gostaria, de dividir com o senhor. Me dá essa chance. Ou melhor, dá essa chance para você mesmo, acaba com essa mentalidade antiga e fechada. Deixa eu te dar, hoje, o único e melhor presente de dia dos pais e, talvez, o que sempre tenha te faltado. Deixa eu te dar o meu amor, pai Branco.
Beijos da tua filha, Rosa.
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Anos em vão
Eu e meus problemas com números e relógios digitais e, principalmente, números em relógios digitais.
Estou sentada em um café, o que não é nada incomum. Lembro ter olhado rapidamente o relógio DIGITAL afixado em uma parede antes de começar a comer.
Comi com uma calma e paciência que não sei ao certo de onde vêm.
Saboreei cada gota de uma das maravilhas do mundo: o cafezinho.
Olho no relógio novamente e, tenho a impressão de que os números são os mesmos, como se o tempo tivesse parado. Mas, como boa cética que sou, imagino óbvia, lógica e rapidamente que o aparelho está quebrado.
Mais de repente ainda, vejo que um minuto passa, o número muda.
É um dia normal.
Entretanto, por outro lado, devo admitir que vejo algumas cenas inéditas, como numa estréia de cinema. A moça da mesa ao lado deu oi ao atendente e agradeceu ao garçom quando este lhe serviu. Isto não é absolutamente normal, não na cidade em que vivo.
O moço do caixa me deu uma lição que eu não aprendi nas escolas, faculdades e cursos da vida. "Sempre temos algo a comemorar".
Minha água tem gosto de whisky (não gosto de whisky) e o bebê da mesa à frente me olha. Levei 20 anos para assimilar uma coisa tão simples e não sei bem se isso é bom ou ruim.
Estou afoita, triste e feliz pelas minhas escolhas, mudanças, por não fumar e poder dizer não, sem hesitar, à promoção do capuccino pequeno + cigarro = capuccino grande.
Tenho medo num canto da mente e paz no coração.
Comemoro hoje a paz que me deixa leve, o amor que enche meus olhos de brilho. Um brinde às mudanças, à instabilidade, à falta de rotina, às novidades.
E finalizo aqui este "pensamento alto" e louco pegando emprestado o refrão de uma música popzinha. Aquela daquele cara que pegava a Deborah Secco.
"Brindo a casa, brindo a vida,
Meus amores,
Minha Família"
Estou sentada em um café, o que não é nada incomum. Lembro ter olhado rapidamente o relógio DIGITAL afixado em uma parede antes de começar a comer.
Comi com uma calma e paciência que não sei ao certo de onde vêm.
Saboreei cada gota de uma das maravilhas do mundo: o cafezinho.
Olho no relógio novamente e, tenho a impressão de que os números são os mesmos, como se o tempo tivesse parado. Mas, como boa cética que sou, imagino óbvia, lógica e rapidamente que o aparelho está quebrado.
Mais de repente ainda, vejo que um minuto passa, o número muda.
É um dia normal.
Entretanto, por outro lado, devo admitir que vejo algumas cenas inéditas, como numa estréia de cinema. A moça da mesa ao lado deu oi ao atendente e agradeceu ao garçom quando este lhe serviu. Isto não é absolutamente normal, não na cidade em que vivo.
O moço do caixa me deu uma lição que eu não aprendi nas escolas, faculdades e cursos da vida. "Sempre temos algo a comemorar".
Minha água tem gosto de whisky (não gosto de whisky) e o bebê da mesa à frente me olha. Levei 20 anos para assimilar uma coisa tão simples e não sei bem se isso é bom ou ruim.
Estou afoita, triste e feliz pelas minhas escolhas, mudanças, por não fumar e poder dizer não, sem hesitar, à promoção do capuccino pequeno + cigarro = capuccino grande.
Tenho medo num canto da mente e paz no coração.
Comemoro hoje a paz que me deixa leve, o amor que enche meus olhos de brilho. Um brinde às mudanças, à instabilidade, à falta de rotina, às novidades.
E finalizo aqui este "pensamento alto" e louco pegando emprestado o refrão de uma música popzinha. Aquela daquele cara que pegava a Deborah Secco.
"Brindo a casa, brindo a vida,
Meus amores,
Minha Família"
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